sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Consciência coletiva no coletivo.



Quem diria que as aulas de sociologia seriam tão úteis dentro do busão.
Meu professor teria orgulho percebendo minha epifania ao encontrar um exemplo tão vívido de Consciência coletiva segundo Émile Durkheim. (eu ia dizer: google it, mas estou generosa e coloquei o link, leia e vê se aprende alguma coisa útil com esse blog).
Juro por Padin Padinciço que quase, quaaasseee vi ele paradinho do meu lado dizendo:
- UM ÍNDIVIDUOO QUE VÍVE EM UMA SÓCIEDADE COÉRSIVA PASSARÁ A FAZER PÁRRRTE DE UMA CONSCIÊNCIA CÓLETIVA FÓRTE E REPRESSORA.

No meu caso específico, a sociedade coersiva era composta por:
- Um tio de algodão-doce e sua grande haste de algodões e máscaras infantis.
- Um par de tias-faxineiras fofoqueiras.
- Uma moçoila que aparentava nunca ter andado em um ônibus na vida.
- Uns peões de fábrica barbudos.
- Uma moça que parecia ter saído do ensaio das escolas de samba do inferno.
- Um cobrador gordinho
- Um motorista super-confiante.
O meu ônibus dá a volta na cidade que eu trabalho, na cidade vizinha, e depois vai pra algum lugar próximo da minha casa. Em uma terceira cidade.
Eu já estava na reta final do meu martírio diário quando o desastre aconteceu.
Na nossa frente tinha um carro novinho, coisa linda de Deus, exceto por um detalhe: tinha uma tiazona dirigindo. Tiazonas são a desgraça do trânsito. São aquelas mulheres que deixaram a carteira de motorista 20 anos na gaveta, e um dia, na crise da meia idade resolvem resgatar o elo perdido com a liberdade de transitar.
A tia parou o carro na entrada da pista, o busão parou atrás, afinal, tiazonas podem levar uma eternidade pra atravessar a pista, já que o conceito de segurança de uma tiazona é: só atravesso quando n-i-n-g-u-é-m estiver passando...
OPPPAA! A tiazona é radical, resolveu atravessar!
Vai tiazona, vai tiazona. vai... NÃO. Não pára, tiazona... não pára! PAROU.
O ônibus NÃO.
Trocando em miúdos a matemática foi essa:
-menos uma traseira novinha de carro
- mais um motorista com a mão na cabeça
-mais uma tiazona histérica se achando a motorista moderna
- e eu, atrasada para um compromisso perguntando: WHY GOD, WHY?
Pensei comigo, vou apelar pra santa dos imprevistos, ela nunca falha:
- Mãe, vem me buscar?
Ok, agora é só sair do ônibus e encontrar minha mãe no acostamento.
-Motorista, abre a porta pra mim?
Levantei feliz e contente como um coelho saltitante...
- Você não pode sair. Você vai morrer.
WHATA HEELLL? Era o casal de faxineiras-fofoqueiras, que começou a alertar a todos sobre o perigo de andar no acostamento, eu certamente iria morrer.
- Que bobagem, gente... minha mãe está logo ali e...
- NÃOOOO. VOCÊ NÃO VAI DESCER.
Era a sambista de legging colorida breguérrima. De repente, todos foram influenciados por um acidente de trânsito causado por uma tiazona que deveria estar dirigindo uma charrete.
O tio do algodão pulou na minha frente e bloqueou meu caminho com uma máscara do homem-aranha. A mocinha nojenta só dizia: - ainnn, não sai nauuummmm. é perigosinhuuu.
Quando eu finalmente cheguei na porta, botei meu pézinho no último degrau....
O MOTORISTA FECHOU A PORTA!
WHAAAAAATTTTTTT A HEEEEELLLLLLLLLLLLLLLLLLLL???????
- EU QUERO SAIR!
- É perigoso, nós já vamos dar a volta e...
- EU QUERO DESCER AQUI! MEU PONTO É O MEIO DA PISTA, EU MORO NO CANTEIRO, ABRE ESSA PORTA!
A porta abriu. As pessoas gritavam: NÃOOO, não vááá! Você vai morrerrrrr! Como se eu tivesse indo pra guerra, pra forca, pra morte certa.
Minha mãe tava do lado. Eu subi no carro e fui embora.
Quando eu passei pelo ônibus as pessoas olhavam com cara de:
- Porque ela não morreu?
Eu mereço...

8 comentários:

  1. UHAUHUHAAUH ótima essa da consciência colétiva, Nersão still Rocks... uhaauha

    beijos

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  2. heheheh o fato cômico a parte, nossa que saudade do Nelsãoo....
    uuutas

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  3. eu tenho uma duvida ...
    de onde veio a inspiração da tiazona no transito causando acidentes?
    hahahhaha

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  4. Eu tive uma experiência parecida. Por sorte tinha saído uma hora antes da minha prova
    Era minha primeira viagem até o tubo do Jardim Botânico, onde fica o campus onde estudo, e uma tiazona japonesa acha que podia botar o bico do Honda Civic novinho dela num cruzamento (que é bastante movimentado e fica logo antes de um viaduto) e que o ônibus se deformará para permitir que o carrinho dela continue intacto. O que aconteceu foi que levamos a lanterna esquerda dela.
    Ela desceu, já com a mão na cabeça, e o motorista desceu para acalmá-la e avisar a empresa de transporte urbano do ocorrido.
    Uns 5 minutos depois, que pareceram uma eternidade, apareceu outro ligeirinho da mesma linha. Imagina um ônibus cheio (eu já estava de pé) de estudantes voltando às aulas (e eu começando as minhas com a prova do nivelamento de matemática), agora multiplicados por dois.
    Ao menos a coordenação foi positiva e todos saímos organizadamente de um veículo e lotamos o outro.

    PS: sem querer ser chato, é Durkheim e histérica (que se não me engano significa "que teve o útero retirado").

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  5. Pra completar a questão da histeria, aqui vai uma definição ótima da origem grega do termo:

    "The term hysteria was coined by Hippocrates, who thought that suffocation and madness arose in women whose uteri had become too light and dry from lack of sexual intercourse and, as a result, wandered upward, compressing the heart, lungs, and diaphragm."

    Fonte: Wikipedia

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  6. Tenho sérios problemas com tiazonas no trânsito, Celise... uma até já bateu em mim... dando ré! Um dia conto lá no blog. Bjs

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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