sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Dormência Televisiva e Amor Quadradinho.

Fonte: www.nadaver.com

Procurando uma ilustração pra esse post, esbarrei com essa tirinha aí. Francamente, não podia ter escolhido coisa melhor.
Tenho a terrível mania de assistir 5 minutinhos de televisão antes de pegar no sono. Eu posso estar um farrapo humano, mas preciso ligar a televisão só pra dar uma canserinha na vista. Se é caso de psicanalista, eu não sei. Mas até comprei uma mesinha de cabeceira pra não ter que largar o controle remoto no chão, ou no meio da coberta onde eu inevitavelmente acabaria pisando ou deitando em cima.
O caso é que as 23h as opções são: um filme na metade, um seriado que você não acompanha, Big Brother Brasil, Luciana Gimenez ou Ronnie Von.
É, eu assisto Ronnie Von.
Várias vezes me peguei comentando com alguém: "Vi no Ronnie Von que...", e a pessoa me responde: "Ronnie Von? Ele tem um programa? E VOCÊ ASSISTEEE?".
Sim. Devo admitir que o meu desinteresse pelo resto da programação contribui, mas existem outras razões que fazem meu zapear sossegar na Tv Gazeta, depois das 23h da noite.
Aquele homem é a Barsa do charme e inteligência com todos os volumes completinhos. Não pensem que estou flertando com Ronnie Von porque esse não é o caso. Mas sabe quando tentam te convencer por todas as partes, que homem é um bicho que peida debaixo do lençol, palita o dente na churrascaria e arrota no almoço de domingo?
Aí você encontra um espécime que usa ternos impecáveis, sempre de gravata e lenço (sim, lenço!) combinando, que entende de moda, gastronomia, pode conversar sem gritar, bater na mesa e aberto a todo tipo de assunto e pensa: mentiram para mim, homens não são gorilas.

Ontem antes de dormir, peguei o papo da quinta-feira que é cinema com Christian Petermann, crítico e colaborador da Folha. Todo mundo sabe que eu sou cinéfila, e já imaginava quais seriam os filmes em pauta, entre eles: Idas e Vindas no Amor. Fiquei pra ver um pouquinho.
Ele disse tudo o que eu já imaginava que o filme viria a ser: mesmo diretor de "Uma Linda Mulher", com elenco astronômico (tanto no número de astros quanto no cachê dos mesmos, imagino), e que não passava de uma comédia leve pra casais apaixonados. Ok, Christian já botou o arroz e o feijão no prato. Agora me dê SUA opinião a respeito do filme.
Foi aí que eu ouvi a frasesinha que anulou os 5 minutos de dormência que a televisão deveria me causar:

"- Olha, sinceramente achei um filme muito quadradinho. Tudo muito certinho. Ele é feito de um mosaico de histórias que circundam entre casais. Casais em formação, jovens, velhos, casais em crise, enfim. O problema é que o assunto é tratado de uma forma muito quadrada e certinha, isso me decepcionou um pouco. Eu esperava que pelo menos um ou dois casais mostrassem uma história de conflito". *

Fiquei impressionada.
Não com a opinião do moço a respeito do enredo ultra romântico do filme, não é isso. Conflito entretém e é fórmula de sucesso. E é isso, que me impressiona.
EU ESPERAVA UM CONFLITO, FIQUEI DECEPCIONADO.
Já me peguei pensando nisso várias vezes.
Sempre fui romântica e acreditei no "felizes para sempre", mesmo que ele não aconteça comigo.
Mas já reparou que as pessoas esperam que relações sejam algo que em determinado ponto vai dar uma ziquizira, azedar, entornar o caldo?
Um dia, encontrei um casal que estava fazendo 50 anos de casamento. E ela me disse: "Houve momentos em que eu rasguei as fotos do nosso casamento. Esses momentos existem, sabe? Mas, como tantos outros... passam. O importante, é ser tolerante e manter a individualidade".

Tolerância. A conspiração para desaparecerem com essa virtude do mundo televisivo e cinematográfico triunfou. Afinal, se o seu marido, namorado, sainte não é como Ronnie Von e peida no lençol, palita os dentes na churrascaria e arrota no almoço de domingo, pra quê diálogo? Termine com ele! Melhor: porque você não o trai com o Ronnie?
Afinal, que decepção seria se vocês fossem felizes para sempre depois de acertar os ponteiros. Daria um filme de amor tão quadradinho.

* Isso saiu da minha memória, não revi a fita do Todo Seu de ontem. Então não é ipsis literis.

Um comentário:

  1. Muito bom esse texto... tá, eu também assisto Ronnie Von de vez em quando.

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