quarta-feira, 3 de março de 2010

Ociosidade é terra fértil.

Não sei se concordo muito com aquela célebre frase das porcentagens de transpiração e inspiração. Idéias inspiradas pra mim, sempre surgiram em momentos de ócio extremo. O ócio, meus caros, é o adubo que fertiliza as mentes que vagam. Que coisa mais linda que eu disse agora, deve ser porque essa é uma tarde tediosa.
Enfim, não cabe a mim protagonizar a papagaiada do post de hoje. Na verdade, são dois os protagonistas: meu irmão e meu pai, que aliás já serviram de inspiração pra outras histórias por aqui. E se você é leitor do blog ou me conhece pessoalmente, sabe que a nossa família tem como empreendimento um salão de beleza.
Meu pai corta cabelo a 30 anos e sempre fez o possível pra me convencer a seguir carreira, mas meu pacto eterno com Murphy me fez temer pelo destino do cabelo alheio. Escolhi publicidade, e o máximo que faço pelo salão é frequentá-lo. No entanto, pasmem... meu irmão metaleiro é cabeleireiro. Só o fato do destino juntar duas características tão peculiares em uma só pessoa renderia tema pra um blog todo.
E esse episódio começou porque essa semana o movimento no salão está fraco. Quando estou ociosa eu navego na internet, eu escrevo no blog, eu faço pesquisa. Quando o pessoal do salão está ocioso, eles sentam na mureta da calçada, observando o movimento e cumprimentando cada cidadão, já que meu pai já se estabelecia na cidade antes dos lotes serem distribuídos. #sarcasmo
_ Pai, olha aquele carro alí.
_ Que carro, filho?
_ O gol estacionado aqui na frente do outro lado da rua. Geração quatro.
_ Nussa. Olha o jeito que o caboclo estacionou esse carro.
_ Mano, parece que o cara quis estacionar na diagonal.
_ Os vidros todos abertos. Estranho, né?
_ Nossa, véi. Tá muito torto.
_ Ah deve ter parado pra ir na  lotérica, pedir informação de endereço. Daqui a pouco a pessoa volta.

2 HORAS DEPOIS
_ O carro continua lá.
_ Tá torto ainda?
_ Tá, e com o vidro aberto... Sabe o que eu reparei?
_ O quê?
_ Tá com o pneu todo branco, a roda ralada.
_ Estranho, estranho... Será que assaltaram e largaram o carro aí? [observem como todas aquelas horas de CSI, Cold Case, filmes de ação diversos começam a surtir efeito]
_ Tava pensando nisso.

+1 HORA DEPOIS (aproximadamente 17:30h)
_ Pai, olha lá... aquele lá não é o coronel, seu amigo? [ é, ele conhece coronéis também]
_ É! Vamos aproveitar pra falar com ele do carro.
[ A coisa saiu do âmbito da espiculação e partiu pra ação. Vai Pai Lilly Rush!]
 _ Ô coronel, boa tarde.
_ Boa tarde, Val. Como vai o salão?
_ Bem, bem... Viu, olha aquele carro alí do outro lado da rua. Tá alí desde as 14h da tarde, estacionado daquele jeito, com os vidros abertos.
_ Oh rapaz, estranho hein. Vamo lá dá uma olhada.

O coronel abriu as portas do carro, olhou as rodas, olhou dentro de tudo quanto é buraco, possivelmente procurando drogas, pedaços esquartejados de carne humana, um pequeno cão abandonado. Nada. Só encontrou sacolas com toalhas.
_ A roda tá toda ralada, coronel.
_ É eu vi. Certeza que isso é roubo e abandono. Vou passar um rádio pra todas as viaturas da polícia. Mas que merda, justo agora que acabou meu plantão. Esses bandidos não dão folga, né rapaz... ATENÇÃO TODAS AS VIATURAS, VEÍCULO ABANDONADO PLACA...

Nesse momento vinham na diração do carro um engenheiro/arquiteto conhecido na cidade, também amigo e cliente do salão, acompanhado de uma mulher.
- Oi Val. O que tá acontecendo?
- Então rapaz, ROUBARAM esse carro e abandoram aqui, você acredita? Novinho. O coronel tá passando um rádio pra todas as viaturas pra ver se alguém já deu queixa de roubo com essa placa, e...
- O QUÊ? -  nesse momento a mulher se manifesta -  PÁRA TUDO! ESSE CARRO É MEU.

Ociosidade, olha a merda que você fez.

_ Minha senhora, esse carro é da senhora?
_ Sim, coronel.
_ A senhora está louca, senhora? Olha o tamanho da sua irresponsabilidade! Como a senhora pôde deixar o carro estacionado DESSE JEITO! Isso é jeito de se estacionar um carro? Com as janelas todas abertas, as portas abertas, tudo fácil de ser roubado desse jeito. Sabe a única coisa que não é fácil aqui, MINHA SENHORA? É eu conseguir chegar em casa depois do expediente. Por causa da sua barbeiragem, eu estou aqui, minha senhora, passando rádio pra TODAS as viaturas, depois as pessoas vem dizer que a polícia não faz nada... (...)

Meu irmão disse que o coronel nem respirava pra falar com a meliante. Mas ele também não entendia o que ele estava dizendo, afinal eles já tinham atravessado a rua incentivados por uma coleguinha da ociosidade, a vergonha alheia.

Um comentário:

  1. Ahhh mas isso não é nenhuma novidade. Mulher com volante não combina =P

    Gostei da história! Ansioso para a próxima.

    ResponderExcluir